segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Dor de cabeça - Lady HeadAche Silva

Tudo começou no... Fala sério, quem realmente consegue saber o exato momento em que tudo começou? Dor de cabeça simplesmente começa e a gente também nunca lembra quando acaba. Só acaba. Só se percebe mesmo quando, no meio da situação, alguém te pergunta: "Como está sua dor de cabeça?" Aí você não sabe se a pergunta foi uma boa ou não, porque eu me lembrei que estava com aquela dor horrível até agora. Eu quase tinha me esquecido... Não que a dor tinha me deixado, eu tinha mesmo é me acostumado com ela... Me distraí com outras coisas. Ah! Sim, é claro que quem perguntou se preocupa comigo, sem dúvida. Mas não vou ser indelicada de falar a total verdade. A resposta? Bem, depende de quem pergunta! Resposta para estranhos: "Está melhor, obrigada por perguntar!" Resposta pra amigos: "Ainda dói um pouquinho, mas vai melhorar!" Resposta pra família: "Vê se não me enche que tá doendo... cala boca!"
O que os estranhos dizem: Nada, eles mudam de assunto. O que os amigos dizem: "Já tomou algum remédio?" O que a família diz: "Nossa, deve estar doendo mesmo, que grossa! Vai se tratar!" Enfim, lá estava eu no fim de mais um dia de faculdade e a droga da cabeça piorando e todos os remédios na gaveta do meu armário, lááááá em caaaasa!!!!! Que maravilha. Fui ficando cada vez mais calada e a professora pensando que eu estava cada vez mais concentrada. A dor aumentava e o meu silêncio também. Tudo começou a doer: A mão que apoiava o rosto, a caneta que escrevia (você já viu caneta doer? A minha doía!), os olhos que se esforçavam para enxergar a lousa, quadro negro, branco... sei lá o nome. Essas letrinhas aí grudadas nessa coisa branca que reflete a luz que me faz doer mais a cabeça... ai! A aula parece eterna, a professora não para de falar, e eu lutando pra escrever. Virar os olhos dói. Descer e levantar a cabeça, dói. Escrever, escrever por que tudo isso vai cair na prova... Dói a nuca, dói as orelhas, dói o cabelo... E meu humor já não é o mesmo. É melhor eu ficar bem caladinha, ou vou acabar dando para meus amigos uma dessas respostas que só dou pra família. A aula acabou, finalmente, mas minha cabeça parece ter piorado muito. Arrumar o material dói. Me mexer dói. Agora parece que o cérebro todo está solto dentro da minha caixa craniana. Sabe o que é cérebro? Parte súpero-anterior do encéfalo, constituída por uma massa branca e cinzenta de substância nervosa (a minha substância nervosa estava nervosíssima), que ocupa a cavidade do crânio e é o centro das sensações (péssimas essas sensações) e a origem dos movimentos voluntários; Movimentos voluntários? A única coisa voluntária ali era minha vontade de chegar em casa. O meu cérebro voluntariamente se movia batendo de um lado para o outro. Sim, ele tinha vida própria, para o meu tormento. O caminho até o ponto do ônibus foi cheio de duras batidas dos meus pés contra o chão. O que? Você pensa que eu não tentei andar como um gatinho? Bem de mansinho? Não adiantou nada!!! TUNC, TUNC! O ônibus chegou e quem pega ônibus sabe da luta que é entrar nele primeiro para poder sentar. Hoje eu preciso sentar ou vou chorar até o fim do trajeto. Na cotovelada eu grito de dor. Não foi a cotovelada que doeu. Consegui me sentar. Fechei os olhos. Já viu motorista de ônibus depois das dez da noite dirigir devagar e com cautela? Tá certo, não tem horário pra isso! Qualquer hora é hora pra dirigir mal. E esse me parecia ainda pior. Minha parte súpero-anterior do encéfalo ainda pulava voluntariamente dentro de minha caixa craniana. E como isso doía. Cada movimento do ônibus, em cada parada e saída, em cada curva e buraco... Pensa que acabou? São dois ônibus para chegar em casa. Tudo de novo... Em casa... finalmente. Fome, cansaço, dor de cabeça, preocupação com contas, trabalho, faculdade... Parece que hoje é um daqueles dias... ainda bem que está acabando. Jantei bem devagar para não balançar mais a cabeça. Tomei o leite quente com o comprimido. Banho quente com movimentos cautelosos para não... você já sabe... Roupa quentinha, coberta, travesseiro fofo e oração... nem me lembro de ter dito amém. Nem me lembro se, quando dormi, ainda sentia dor. Boa noite!

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