domingo, 17 de janeiro de 2010

O Bode


Naquela manhã eu levantei com muito sono!! Foi uma noite muito difícil acordando de hora em hora. Desde que fui chamado pastor da igreja não tem parada meu telefone! Fora meu filho doente com apenas cinco meses chorando muito.
Nas poucas horas de sono que tive eu sonhei muitas coisas, entre elas muitos pesadelos. Como se eu estivesse em uma guerra invisível. Acordei exausto. Era domingo e estava super atrasado. A reunião começava as 9h00 e já eram 8h50. Abri os olhos e pulei da cama. Minha mulher jurou que tinha me chamado diversas vezes, mas que na última ficou com dó, pois eu mal respondia. Não lembro de nada!!
Como minha esposa é maravilhosa ela arrumou toda minha roupa de domingo na cadeira nos pés da cama. Me troquei, escovei os dentes, peguei as escrituras sagradas e corri escada abaixo. Que fome!!! Não dá tempo nem de roubar um pedacinho de pão da mesa. Meus filhos todos já tinha ido para a igreja e minha esposa saiu mais cedo para deixar o carro pra mim. Carro?? Do que estou falando?? A igreja fica na construção que fizemos na nossa fazenda do lado da casa. Essa é minha sorte. Os fiéis estavam preocupados com minha demora, e já foram começando com os anúncios do dia. Corri meio zonzo e entrei porta adentro como um louco. Não sei como não caí!
Então finalmente parecia que todos os meus esforços de pastor estavam dando lucros, pois eu ouvia o som de todos falando ao mesmo tempo, a capela estava cheia.
De repente eu o vi! Assustador. Minhas pernas amoleceram, comecei a suar frio, as sagradas escrituras caíram da minha mão de tanto que minhas mãos estavam molhadas e quase tinha mais coisa molhada em mim... Ajoelhei, não por vontade, mas por puro medo e por não ter condição de segurar minhas pernas mais nem um minuto... Ele estava lá me fitando, o próprio “coisa ruim”, com cara de bode e com aqueles chifres e barba feia, e parecia que me falava alguma coisa, mas eu não conseguia entender. Nem sabia se queria entender. Ele colocou um pé a frente da porta como se quisesse entrar, mas como se não conseguisse. Já de joelhos orei fervorosamente para que o “coisa ruim” fosse embora. Isso é que dá trabalhar tanto pelas coisas certas o “coisa ruim” não gosta não. Ali quase chorando de medo nem me dei conta que o barulho das vozes das pessoas se transformou em um lindo coro de anjos. Acho que o povo da capela viu o que eu estava passando e começou a cantar para me ajudar naquele momento tão difícil. No momento em que eu gritava na oração:
_ “Pai, me ajuda!”
Eu ouvi uma voz familiar me dizer:
“Sai daí, levanta!”
Eu estava ouvindo os céus. Ainda de joelhos ouvi a mesma voz dizendo:
“Pai o que você está fazendo?”
Então comecei a levantar a cabeça ainda com medo. A cabeça de bode ainda estava lá, me fitando por tempo demais, ainda tentando me dizer alguma coisa, pois sua boca não parava de se mexer. Será que ele está dizendo pra eu parar de trabalhar para o “outro reino”? Foi com muito esforço que olhei para trás e vi meu filho com o rosto mais assustador do que o meu. Eu suava por todos os meus poros e já estava totalmente molhado de suor e descabelado de tanto que eu coloquei as mãos na cabeça. Meu filho perguntou de novo:
_ “Pai o que você está fazendo?”
Eu quase sussurrando disse para ele:
_ “Sai correndo daqui, meu filho!”
E comecei a chorar de medo que algo acontecesse à ele. Assustado, ele se aproximou de mim como se, naquele momento, ele fosse meu pai, e tocando na minha cabeça tentando arrumar meu cabelo e me acariciando ao mesmo tempo perguntou mais uma vez:
_ “Pai o que você está fazendo aqui?”
E eu olhei para ele e perguntei:
_ “Você pode vê-lo”?
_ Ver quem meu pai?
_ O “coisa ruim” em forma de bode!
_ Do que você está falando meu pai?
_ Filho ele vai te pegar também! Corre meu filho!
_ Pai, você endoidou? Levanta do celeiro, para de olhar assim pro velho bode “masca grama” e vamos pra capela que o coral já começou a cantar o hino anterior do seu discurso.
Foi aí que me lembrei que a capela ficava ao lado do nosso celeiro e vi que meu bode velho estava mais assustado que eu com tudo aquilo, enquanto não parava de mascar grama...
“Baseado em fatos... reais??!??!??!??” :D